O monoteísmo ético.

O texto é escrito para uma reflexão magnifica:


“Separarem-se, inicialmente, alguns conceitos. Monolatria é o culto a um único deus, embora acreditando-se na existência de outros; isso era comum na Antiguidade, com os deuses de cada tribo, cada clã ou mesmo cada povo. Monoteísmo já é a crença na existência de apenas um deus, não sendo os outros, porventura cultuados, senão falsos deuses. Já o monoteísmo ético é a crença em um deus único, que dita normas de comportamento e exige uma conduta ética por parte de seus seguidores.
Entre os hebreus, Iavé evoluiu de um deus tribal para um deus universal, de um deus de guerra, senhor dos exércitos, para um juiz sereno, consciência social e individual, exigente de justiça social.
Os profetas sociais, Amós e Isaías, foram os grandes responsáveis por esse passo.
Vivendo no século VIII, os profetas sentiam o peso da monarquia sobre o povo, o luxo dos poderosos convivendo com a miséria dos camponeses e criadores, palácios ao lado de palhoças. Utilizando-se de antiga tradição do tempo dos cananitas, a tradição de prever o futuro em nome de uma entidade superior inspiradora, os profetas laçam suas negras profecias sobre os que tratavam tão mal o pobre, pensando apenas em si.
É possível que no seu discurso estivesse presente o grito de liberdade de um povo de criadores, livre pó excelência, agora a obrigações de pagar impostos a um governo que pouco lhe dava em troca. Devia os profetas representar o inconsciente coletivo da nação, inconformada com a perda de campos de pastagens, insatisfeita com a centralização monárquica, desconfiada daquele tempo que exigia tributos.
O povo tinha nostalgia do período tribal: o olhar para o passado sem injustiças sociais, sem opressão, sem impostos para sustentar a nobreza e exercito inúteis acabou se construindo em mensagem para o futuro.
[...]
[...] Isaías diz que Iavé não quer oferendas nem rezas, quer que as pessoas ajam de forma correta, isso é, pratiquem a justiça social.
O que fica dos hebreus não é, portanto, o som da lira de Davi ou o discutível e limitado poder político; não fica também o deus tribal nem o Senhor dos Exércitos. Fica a mensagem por uma sociedade mais justa, utopia sem a qual fica difícil imaginar o sentido das próprias sociedades humanas.”

PINSKY, Jaime. As primeiras civilizações, São Paulo. Atual 1994 p. 90-2